Tuesday, November 24, 2009

Make love, not war


"Só que homossexualidade não existe, nunca existiu. Existe sexualidade - voltada para um objeto qualquer de desejo. Que pode ou não ter genitália igual, e isso é detalhe. Mas não determina maior ou menor grau de moral ou integridade."
{Caio}

Então que hoje eu descobri que o preconceito tá aí, na cara de todo mundo. Mesmo onde a gente acha que não tá.
Hoje eu peguei carona com um professor da faculdade de Letras da UFMG, o lugar
em que eu vi (e conheci!) a maior concentração de "homossexuais" da minha vida. Daí que eis que entro no carro e existe uma outra pessoa, também do sexo masculino, no banco do motorista. Essa pessoa foi apresentada como "um amigo".
Ao longo da carona, eu cheguei à conclusão de que ele não era simplesmente "um amigo", pelos comentários sobre a casa do já dito professor, além de o carro ter sido guiado pelo "amigo" exatamente para a garagem da casa de quem me ofereceu a carona. Mas isso não vem ao caso.

O importante mesmo, o que mais me doeu, foi o fato de uma pessoa que convive diariamente com a homossexualidade - em toda a parte no seu ambiente de trabalho, e na sua própria casa - não se sentir confortável em dizer a outra pessoa que, ela sabe, convive tanto quanto ela com esse tipo de relação, que "este é o meu namorado". Não. Ele é "um amigo".
Podem dizer: ah, às vezes é o jeito dele. Que seja. Mas esse "jeito" existe por quê? Eu pergunto, eu mesma respondo: pelo simples fato de que a sociedade é preconceituosa demais para "aceitar" (entre aspas porque esse não é o tipo de coisa que deve ser "aceita" ou não. É uma coisa natural, e ponto) esse tipo de relação. E isso é ridículo, e me dói pensar no tanto de gente que já deve ter olhado torto pra ele quando ele apresentou o seu companheiro da maneira apropriada.
Me dói ele não se sentir confortável de dizer isso para os seus alunos, pessoas que convivem intimamente (muitas vezes, tão intimamente quanto ele) com relações homossexuais e que, supostamente, estão livres de preconceitos.

E hoje, depois de perceber isso, levei o maior tapa na cara da minha vida. Três das minhas melhores amigas são homossexuais (sendo duas delas um casal), dois dos meus grandes amigos são homossexuais. . . e isso, pra mim, é tão absolutamente não-anormal que não me entra na cabeça como as pessoas podem ter tanto preconceito vendo o amor, em uma de suas mais belas formas, acontecer bem à sua frente. Não, não entra mesmo. E, sinceramente, eu nem quero que entre, porque desprezo totalmente esse tipo de pensamento.

Foi como viver, como estar dentro do "Hotel Ruanda". É, aquele do filme, mesmo, sobre a guerra na África. A única diferença era o tipo de preconceito. Depois de assitir a esse filme, eu senti vergonha, sinceramente, VERGONHA de ser classificada pela sociedade como "branca". E convivo com este sentimento todos os dias desde então. E hoje o sentimento de vergonha foi agravado. As duas têm suas raízes em fatos do passado, mas hoje. . . hoje eu senti vergonha de ser parte de uma sociedade tão preconceituosa e não fazer nada efetivo pra mudar isso. E, o pior de tudo: eu falo isso hoje, mas daqui a um mês já nem vou me lembrar dessa situação. Porque o preconceito já se tornou tão normal que nos acostumamos a ele. O incorporamos, na verdade.

E isso me dói. Muito.

Acho que chega, era só um desabafo!